Dissetações
A Lucta dos Titans - A invenção da rivalidade entre Clube Atlético Mineiro e a Sociedade Sportiva Palestra Itália: 1921 - 1942
Autor:
Rogério Othon Teixeira Alves
Orientador:
Silvio Ricardo da Silva
A proposta deste estudo foi compreender a construção histórica da rivalidade nos jogos entre o Clube Atlético Mineiro e a Sociedade Sportiva Palestra Itália, na cidade de Belo Horizonte, de 1921 até 1942. Procuramos entender como se teceu essa rivalidade e como a fundação dessas equipes de futebol modificou o espaço e a dinâmica da cidade. Por se tratar de um estudo histórico, nos fundamentamos, principalmente, nos estudos de modernidade de Nicolau Sevcenko e nos trabalhos que, de alguma forma, tiveram o futebol e a cidade de Belo Horizonte como tema de investigação. Tais estudos foram os de Euclides Couto, Georgino Souza Neto, Letícia Julião, Rodrigo Moura, Raphael Rajão, Marilita Rodrigues e Kellen Vilhena. Adotamos os jornais como fonte de pesquisa, trabalhamos com periódicos da temporalidade pretendida e de anos anteriores no intuito de subsidiar a construção do texto. Ao final, 231 reportagens jornalísticas foram utilizadas. Tais documentos foram encontrados no Arquivo da Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, na Coleção Linhares da Universidade Federal de Minas Gerais e na Hemeroteca Histórica da Biblioteca Pública Luiz de Bessa. Percebemos que o crescimento exponencial dos espectadores nos seus jogos, a expectativa pré-jogos trazida pelos jornais e, principalmente, o relato dos jogos, subsidiaram o entendimento para qualificar essa partida como um clássico do futebol de Belo Horizonte. Compreendemos que os jogos de futebol foram um dos espaços encontrados para o povo se aglomerar e socializar. Com o tempo, a simples assistência das arquibancadas evoluiu para o pertencimento clubístico, e esses torcedores tiveram nas camisas do Atlético e do Palestra um dos representantes da rivalidade local.
O rio que corre pela aldeia: relações estabelecidas por torcedores comuns de Belo Horizonte com o torcer, com a violência e com o novo Estádio Independência
Autor:
Marcos de Abreu Melo
Orientador:
Silvio Ricardo da Silva
A presente dissertação teve como problema central investigar como os torcedores comuns de Belo Horizonte se relacionam com diversos aspectos do ato de torcer nos jogos de futebol disputados no novo Estádio Raimundo Sampaio (Independência), na capital mineira. Tratou-se de uma pesquisa descritiva, caracterizada como documental e de campo, de caráter quantitativo e qualitativo. Foram feitas incursões a nove partidas de futebol realizadas no estádio Independência, tendo o América Futebol Clube, o Clube Atlético Mineiro e o Cruzeiro Esporte Clube como mandantes ao longo do segundo turno do Campeonato Brasileiro das Séries A e B de 2012. Foram feitos registros de campo antes, durante e após esses jogos e aplicados questionários com um total de 231 torcedores. Posteriormente, cinco desses torcedores foram selecionados para entrevistas semiestruturadas. Os dados foram analisados tendo em vista três eixos centrais: a relação do torcedor com o torcer e o seu clube; a relação do torcedor com o estádio; e a relação do torcedor com a violência. Foi possível perceber diferenças e semelhanças entre os torcedores de cada um dos três clubes pesquisados. Os dados indicaram que os americanos tem grande orgulho do Independência, repudiam, em sua maioria, os xingamentos e cantos ofensivos nos estádios e não possuem um grande rival para reafirmar seu pertencimento clubístico. Os torcedores do Atlético, por sua vez, tem na própria torcida do time uma de suas maiores razões de serem atleticanos, aceitam bem o Independência como palco dos jogos do clube e fazem grande uso dos cambistas como forma de adquirir ingressos. Já os cruzeirenses não se identificam com o Independência, tem forte influência dos títulos conquistados na construção do seu pertencimento clubístico e veem nas cinco estrelas um símbolo importante do clube. Por outro lado, os torcedores dos três times aprovaram a reforma no Independência e a atuação dos policiais militares em dias de jogos, embora tenham alegado uma sensação de segurança baixa sobretudo no entorno do estádio. Os torcedores também concordaram serem a localização e a modernidade os principais pontos positivos do novo Independência, ao passo que o estacionamento e a visibilidade do jogo foram apontados como os principais aspectos negativos. A análise dos dados permitiu observar permanências e descontinuidades no ato de torcer na capital mineira, explicitando avanços e tensões no processo de modernização dos estádios de futebol.
O MEGAEVENTO COPA DO MUNDO FIFA 2014: relações entre futebol, educação e lazer em uma escola estadual de Belo Horizonte - MG
Autor:
Amarildo da Silva Araújo
Orientador:
Silvio Ricardo da Silva
Este estudo representa uma investigação sobre o megaevento da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e a sua relação com a educação em uma escola pública de Belo Horizonte. No período entre 2007 a 2016 o Brasil se constituiu como país-sede dos mais importantes eventos esportivos mundiais. A realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 trouxe alterações na vida das pessoas independente delas serem torcedoras ou não, mudanças nas cidades-sedes e produziu impactos em diversos campos como na economia, política, organização espacial, tecnologia, dentre outros, acreditando-se também em possíveis intervenções, na educação institucionalizada e escolarizada, que tem diretrizes gerais, e, portanto esperou-se algo dela na sua relação com esse megaevento de lazer. Nesta pesquisa de abordagem qualitativa, foi realizado um estudo de caso por meio da análise de documentos, questionário, entrevista e a aplicação de grupo focal. Para isso, realizei a revisão bibliográfica sobre o megaevento da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, estudos do lazer e educação. Os resultados mostraram que os organizadores do evento - FIFA e os órgãos governamentais - trataram a educação de forma secundária, não explorando a realização desse megaevento dentro da escola. Além disso, os dados constataram que a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi um evento que apresentou um potencial educativo que foi pouco explorado pelas disciplinas curriculares e um legado para a educação que poderia ser construído a partir da própria escola, uma vez que é um espaço de construção e reflexão do conhecimento.
ITINERANTE FUTEBOL CLUBE: a desconstrução do torcer e as relações entre os clubes e as torcidas
Autor:
Alexandre Francisco Alves
Orientador:
Silvio Ricardo da Silva
A proposta deste estudo foi compreender o processo de (des)configuração e (re)configuração do torcer nas duas cidades: Betim (MG) e Ipatinga (MG), e como se estabeleceu a relação das torcidas com o Ipatinga FC / Betim EC. Procurou-se entender como os torcedores reagiram a essas mudanças territoriais, as tensões provocadas e as possíveis consequências no cenário, em que um clube se instaloue outro deixou de existir bem como se configurou o torcer nas cidades, e como se deu o processo de (re) apropriação ou (des) apropriação do clube pelos torcedores. Além disso, buscou-se investigar as razões que levaram esse(s) clube(s) a mudarem de nome, camisa, escudo, ou seja, sua identidade e sua sede. Na cidade de Ipatinga foram aplicados 108 formulários junto aos torcedores do Ipatinga FC. Na cidade deBetim, foram entrevistados seis torcedores do Betim EC que acompanharam o time durante o período em que esteve na cidade. Os gestores dos municípios de Ipatinga (MG) e Betim (MG) e o gestor do clube foram entrevistados e fizeram apontamentos diversos em relação à situação itinerante vivenciada pelo clube. Para a organização e análise, os dados contidos nos formulários foram tabulados com a utilização dosoftware SPSS para Windows, versão 21. Já na organização e análise dos dados qualitativos (as entrevistas semiestruturadas) foi utilizada a análise de conteúdo proposta por Bardin. Sobre a torcida do Ipatinga, os dados analisados apontam para um descontentamento com a saída do clube da cidade e uma expectativa do seu retorno apesar da desconfiança gerada pela situação de migração do clube. Contudo, continua sendo uma marca importante de pertencimento territorial que tem no clube um instrumento que reforça esses laços de afetividade. Já os dados obtidos nas entrevistas com os torcedores do Betim, apontam para a criação de um vínculo com o território em que o clube se instalou e que projetou no clube a possibilidade de envolvimento e o início da formação de uma identificação com o time ao longo dos momentos de lazer vivenciados principalmente nos finais de semana. Já, com os gestores, foram encontradas evidências de que uma administração ineficiente, em consonância com excessiva dependência de recursos públicos, foi a causa da= crise que culminou com a saída do clube de Ipatinga. Em Betim, o clube não alcançou as parcerias que almejava com os setores público e privado, gerando uma crise que culminou com o seu retorno para Ipatinga
AS VIVÊNCIAS DOS TORCEDORES DE ESTÁDIOS PERIFÉRICOS DIANTE DO PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO DOS ESTÁDIOS BRASILEIROS
Autor:
Christian Matheus Kolanski Vieira
Orientador:
Silvio Ricardo da Silva
O Brasil conta atualmente com 789 estádios de futebol espalhados por todos os cantos do país, de acordo com o Cadastro Nacional de Estádios de Futebol (CNEF) realizado pela Confederação Brasileira de Futebol em 2016. Apesar de serem os estádios com maior capacidade de público aqueles que mais aparecem nas mídias, eles não evidenciam a realidade dos estádios brasileiros. Estádios com capacidade igual ou superior a 40 mil assentos, representam apenas 3% do total, de acordo com o CNEF. Em contrapartida, estádios periféricos como o Castor Cifuentes/MG e o Farião/MG, com capacidade inferior a 10 mil presentes, representam 77,4%. Dessa forma, a principal questão que norteou este trabalho foi: o que os torcedores que frequentam os estádios periféricos (e que não foram afetados diretamente pela onda modernizadora) pensam sobre esse processo de modernização? Portanto, nossos objetivos foram: analisar a vivência dos torcedores de estádios periféricos diante do processo de modernização dos estádios brasileiros; investigar como se configuram as práticas do torcer pelos torcedores do Villa Nova/MG e do Guarani/MG em seus respectivos estádios; analisar a percepção que os torcedores de estádios periféricos têm sobre estádios e arenas; analisar em que o processo de modernização dos estádios influenciou no comportamento dos torcedores que frequentam os estádios periféricos; e, verificar o perfil dos torcedores periféricos. Para tanto, realizamos 19 incursões a campo, todas em dias de jogos dos clubes em questão. Os dados foram coletados por meio da observação participante (dentro e fora dos estádios) e pela aplicação de formulários, realizada em frente aos estádios momentos antes das partidas. Os dados foram tabulados no programa de análises estatísticas Statistical Package for the Social Sciences e analisados por meio da análise de conteúdo proposta por Bardin (2011). Contamos com a participação de 107 torcedores. Como principais resultados: nossa amostra foi composta em quase sua totalidade por homens (evidenciando que ainda há grande desproporcionalidade de gênero nestes espaços), das mais variadas idades. Os sujeitos pesquisados, na maior frequência, são torcedores comuns (não pertencentes a torcidas organizadas), moradores da cidade (em muitos casos do bairro), possuem renda mensal individual entre um e dois salários mínimos e assistem aos jogos sozinhos (maior frequência) ou acompanhados por amigos. Houve por parte deste grupo a compreensão de que arenas são projetadas para oferecer conforto, ao passo que os estádios não. Inclusive sendo esta a principal diferença apontada entre estádios e arenas, junto ao aumento da sensação de segurança. Aparentemente, a modernização dos estádios não vem influenciando no comportamento do torcedor que frequenta os estádios periféricos. Somado a isso, os dados mostram que os torcedores também são favoráveis a estas transformações mesmo cientes dos pontos negativos. Inclusive cientes do risco de serem excluídos da vivência cotidiana nos estádios. Por fim, sugerimos que novos estudos sejam realizados buscando o aprofundamento nestas importantes temáticas.
O clube no coração e/ou no bolso: os processos de mercantilização do torcer a partir de um Programa de Sócio Torcedor
Autor:
Thiago José Silva Santana
Orientador:
Silvio Ricardo da Silva
Ao longo do tempo, o futebol passou por inúmeras mudanças, influenciadas por diversos eventos, que alteraram a forma como o futebol é administrado e também como é vivenciado. Consequentemente, as relações entre os envolvidos com o esporte também se modificaram. Entre essas mudanças está a relação entre os torcedores e o clube. Um dos fenômenos que vem modificando esta relação é a emergência dos programas de sócio torcedor. O objetivo do presente estudo foi analisar a relação que torcedores do Clube Atlético Mineiro estabelecem com o programa de sócio torcedor do clube. Especificamente buscou-se identificar o perfil socioeconômico dos frequentadores dos jogos, a opinião que esses têm sobre o programa de sócio torcedor, as relações que os torcedores estabelecem com o referido programa e como o clube compreende a relação com sua torcida, participante ou não do seu programa de sócios. Para tanto, foram realizados levantamento bibliográfico, documental e trabalho de campo. O levantamento bibliográfico consistiu na busca de trabalhos acadêmicos que abordaram o fenômeno do sócio torcedor. Do ponto de vista documental, analisou leis, borderôs e o website do programa. O trabalho de campo consistiu na análise dos dados de 435 questionários coletados em cinco partidas do Campeonato Brasileiro de 2015, sendo que deste total 286 são sócios torcedores e 149 não são sócios. Também foram realizadas entrevistas com torcedores sócios, não sócios e um gestor do programa Galo na Veia. Após a análise, os resultados mostraram que o perfil dos sócios é composto por homens, solteiros, jovens, com nível superior de escolaridade, profissionalmente alocados no setor privado, residentes em Belo Horizonte e que utilizam veículo próprio para ir ao estádio. Identificou-se que o programa tem, de forma geral, uma aceitação significativa por parte dos torcedores, embora os mesmos tenham pouco conhecimento sobre o programa, atendo-se principalmente à questão do acesso ao estádio. Os dados também mostraram que o programa de sócio torcedor modificou a relação entre torcida e clube e configura-se como um símbolo de distinção entre os torcedores. A compreensão da relação do clube com sua torcida está orientada sob uma lógica empresarial, cujo modelo de conexão com o torcedor teve como referência o processo de mercantilização do torcer, que se estabeleceu em outros países. O processo de mercantilização do torcer acaba por limitar essa experiência a um grupo restrito, retirando aqueles que não têm condições de arcar com os valores que essa lógica impõe. Essa pesquisa também pode promover a reflexão dos gestores dos programas de sócios, para que possam mediar os interesses econômicos do clube sem a exclusão sumária dos torcedores de baixa renda.
O torcer no futebol como possibilidade de lazer e vínculo indentitário para torcedores de América-MG, Atlético-MG e Cruzeiro
Autor:
Jefferson Nicássio Queiroga de Aquino
Orientador:
Silvio Ricardo da Silva
O futebol e o torcer são elementos importantes da cultura brasileira e se instituíram na cidade de Belo Horizonte desde o início do século passado. Dessa forma, como parte da cultura do belo-horizontino, são também responsáveis pela construção identitária desta população, destacando-se também como importante opções de lazer. O objetivo do presente estudo foi investigar o vínculo identitário e de lazer dos torcedores de América, Atlético e Cruzeiro – clubes sediados na cidade de Belo Horizonte e participantes da série A do Campeonato Brasileiro de futebol no ano de 2016. Especificamente, buscou-se identificar e comparar o perfil dos torcedores organizados e torcedores comuns, identificar as suas práticas de lazer enquanto frequentadores dos estádios de futebol na cidade de Belo Horizonte e analisar a assistência ao futebol enquanto prática de lazer dos mesmos. Para isso, foi desenvolvida uma pesquisa de campo composta por duas partes, sendo a primeira uma coleta de questionários nos arredores dos estádios de Belo Horizonte e a segunda uma entrevista semiestruturada realizada com torcedores selecionados a partir dos resultados da primeira etapa. A análise dos dados dos questionários foi feita por meio de uma análise estatística descritiva e a para os dados das entrevistas foi realizada uma análise de conteúdo. Após a análise dos dados identificou-se que os torcedores organizados e torcedores comuns se diferenciam em relação à idade, estado civil e na participação de programas de sócio-torcedor, além dos primeiros possuírem um nível mais alto de identificação com o time do que os segundos. Em relação às atividades de lazer, identificou-se que os participantes da pesquisa possuem uma preferência pelo torcer e ir ao estádio para acompanharem seus times em detrimento de outras opções. A análise dos dados também permitiu identificar que o amor incondicional do torcedor pelo seu time influencia na sua dedicação e ocupação do seu tempo de lazer a esta atividade. Concluímos que a construção identitária do torcedor acontece por meio do contexto sócio-cultural em que o indivíduo está inserido e também na diferença a partir do reconhecimento do outro como rival. Inferimos também que, para os indivíduos que apresentam um alto nível de identificação com o time o torcer pode ser entendido como lazer sério. Essa pesquisa buscou fomentar a discussão no campo de estudos do lazer ao trazer a teoria do lazer sério como uma possibilidade de entendimento de determinada atividade.
ALIANÇAS ENTRE TORCIDAS ORGANIZADAS: análise a partir da união estabelecida entre a Torcida Organizada Galoucura, a Mancha Alviverde e a Força Jovem
Autor:
Adriano Lopes de Souza
Orientador:
Silvio Ricardo da Silva
Esta dissertação teve como objetivo geral analisar a formação de alianças entre torcidas organizadas, a partir da união constituída pelo Grêmio Cultural e Recreativo Torcida Organizada Galoucura com o Grêmio Recreativo Torcida Organizada Força Jovem e com o Grêmio Recreativo e Cultural Torcida Mancha Alviverde. Empreendemos de forma especifica a descrição e a análise do processo de surgimento e manutenção dessa aliança desde a sua incipiente formação até a constituição atual. Além disso, identificamos e analisamos os espaços de sociabilidade inter-torcidas bem como os símbolos expressos por essas alianças. Foi realizada uma pesquisa de campo nas festas de aniversário das três torcidas organizadas, em razão da notória presença de membros de torcidas aliadas em eventos dessa natureza. Na esteira da realização desses eventos, a observação foi utilizada como instrumento de coleta de dados. Posteriormente, uma vez efetuado contatos com os torcedores pertencentes a essas torcidas, foi empreendida uma entrevista semiestruturada com oito torcedores que participaram do processo de formação dessas alianças. A partir dos dados coletados, verificamos que a constituição de alianças entre torcidas organizadas é um processo iniciado na década de 1980 e intensificado na década seguinte, se apresentando como um importante espaço de sociabilidade e de lazer, fundamentalmente, através das recepções às torcidas visitantes promovidas pelos agrupamentos anfitriões. Comumente, de forma incipientemente, essa interação acontecia preponderantemente nos estádios, em dias de jogos. Diante dessas primeiras alianças observamos a formação de dois grandes blocos de torcidas e também o surgimento de símbolos como forma de representação desses grupos. Com o crescimento dessas alianças, tornando-se grandes uniões de torcidas organizadas, esses espaços de sociabilidade passaram a ocorrer não só nos estádios, mas também nas sedes e nas quadras desses grupos de torcedores.
O futebol como vivência de lazer de estudantes do ensino médio em cidades pequenas do interior de Minas Gerais
Autor:
Mateus Alexandre Silva
Orientador:
Silvio Ricardo da Silva
A presente investigação objetiva analisar o futebol como uma vivência de lazer na rotina de estudantes do ensino médio de seis cidades do interior de Minas Gerais com menos de cinco mil habitantes. Intenta-se conhecer as vivências praticadas e fruídas com o futebol e o tempo a ele destinado como lazer, analisar as condições de acesso às vivências do futebol, bem como entender o estabelecimento da relação destes estudantes com o torcer. Como método, foi aplicado um questionário estruturado para alunos de seis escolas estaduais do centro-oeste mineiro, no segundo semestre de 2018. Os dados coletados foram tratados via Statistical Package for Social Sciences (SPSS), cotejados com a bibliografia selecionada e interpretados pautando-se na divisão em quatro categorias de análise: jogar futebol; torcer; assistir futebol na TV; e futebol virtual. Nos resultados obtidos, o futebol se mostrou presente como umas das principais vivências de lazer dos jovens, havendo, entretanto, uma disparidade desfavorável às respondentes do sexo feminino no que condiz à ocupação de espaços de jogo, tanto real quanto virtual. O torcer, por sua vez, aparece em igual proporção para ambos, revelando-se distante das arquibancadas, sendo a TV o principal elo entre time e torcedores. Por fim, espaços públicos, mais especificamente campos, quadras e escolas, aparecem, frequentemente, como cenários mais utilizados para a prática do futebol. Já em relação ao futebol virtual, o uso de equipamentos próprios, no ambiente doméstico, se destaca.
O preço da emoção: as transformações no custo do lazer futebolístico no estádio Mineirão entre 1994 e 2018
Autor:
Felipe Pereira de Queiroz
Orientador:
Silvio Ricardo da Silva
O futebol e, mais especificadamente, o torcer em estádios faz parte do imaginário social brasileiro como um lazer tipicamente popular. As discussões, a partir da escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, entorno das transformações que envolveram essa prática pautaram-se dentre as diversas questões na dimensão econômica. O encarecimento no preço do ingresso, centralidade do debate, mostrou-se como principal razão para uma percepção, compartilhada nos meios de comunicação, de elitização e consequente exclusão no torcer em estádios. Diante disso, a presente pesquisa buscou compreender as transformações econômicas ocorridas no custo do lazer futebolístico no estádio Mineirão entre 1994 e 2018. Para tanto, traçou-se o comportamento no preço dos ingressos durante o período correlacionando com variáveis econômicas representativas, inflação e porcentagem do salário mínimo. Além disso, registrou-se a taxa de ocupação do estádio durante todo período, no intuito de refletir sobre a demanda observada. A fonte utilizada para consulta às informações tabuladas em um banco de dados foram as fichas técnicas conhecidas como Borderôs. Esses documentos estavam disponíveis no site oficial do Estádio Mineirão. A metodologia utilizada para análise dos registros no banco de dados foi a estatística descritiva. Além das análises do cenário geral agregado e casos específicos como o período da Copa do Mundo de 2014 e o campeonato brasileiro de 1999, apresentou-se um conjunto de gráficos para cada campeonato, quais sejam: Brasileirão; Campeonato Mineiro; Copa do Brasil; Libertadores; Copa Sul-Americana. Os dados tratados foram capazes de mostrar graficamente a evoluções dos preços dos ingressos de maneira que foi possível identificar padrões e inferir sobre fenômenos internos e externos que influenciam o torcer em estádios. A escolha das variáveis representativas cumpriram a função de dimensionar os resultados econômicos para o debate público e acadêmico. Algumas constatações foram identificadas como mais relevantes na explicação das transformações. A primeira delas é a baixa correlação com a inflação observada, permitindo inferir que o preço dos ingressos é pouco influenciado pelo comportamento geral dos preços do mercado. Porém, do ponto de vista da renda média do torcedor, observa-se que as mudanças macroeconômicas, como o aumento real do salário do mínimo, contribuem para dimensionar o custo de oportunidade envolvido na decisão de ir ao estádio. Constatou-se que com a reinauguração do Mineirão para Copa do Mundo os preços dos ingressos, que antes apresentavam uma relativa estabilidade entres os diferentes momentos da competição, começaram a funcionar com variações de curto prazo. Os preços tornaram-se dinâmicos, de acordo com a expectativa de público do jogo ou da competição. A proporção percentual nos aumentos em jogos, ou competições de maior apelo, observados a partir de 2013, promoveram uma elitização e consequente exclusão no acesso a certos tipos de emoção. Em contrapartida, no cenário agregado, com exceção do triênio 2013-2015, essa percepção é relativizada, na medida em que os preços apresentaram uma equivalência se compararmos o início e o fim da série. A média mais observada da taxa de ocupação não atingiu 30% da capacidade do estádio. Apenas nos anos de 2013, 2014 e 2018 essa média aproxima-se dos 50%. Diante disso, a pesquisa propôs uma reflexão mais aprofundada, do ponto de vista econômico, na formação de preços dos ingressos, entendendo o potencial do resgate do estádio como um espaço de diversidade econômica que retome uma maior centralidade na formação do torcedor, a fim de promover opções de lazer no ambiente público, eliminando ao máximo suas barreiras econômicas, e oferecendo possibilidades de acesso a certos tipos de emoção a um número cada vez maior de torcedores
Futebol de base e produção de subjetividade
A proposta deste estudo foi construir uma cartografia dos modos de fazer psicologia em centros de treinamento (CTs) de categorias de base, bem como das relações da psicologia do esporte com outros saberes/poderes e de seus possíveis efeitos na formação do jogador de futebol, tendo por campo empírico o cotidiano de alguns clubes de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro. Em aliança com os pensamentos de Félix Guattari e Gilles Deleuze, apropriamo-nos dos escritos destes e de outros pesquisadores da Análise Institucional como interlocutores nesta cartografia; igualmente, das contribuições de Michel Foucault sobre sociedade disciplinar e biopoder. Estudos antropológicos e sócio-históricos também nos ajudaram a compreender como se constrói a noção/prática de formação no futebol brasileiro contemporâneo. Colaboraram ainda nessa composição os debates metodológico-epistemológicos sobre História Oral, procedimento que funcionou como um dispositivo ético-político durante todo o processo de investigação. Neste sentido, mediante entrevistas de história oral temática, buscou-se conhecer o trabalho de quatro psicólogos do esporte atuantes em categorias de base na atualidade. Complementarmente, observações em centros de treinamento foram realizadas. Nesse percurso, apreendemos nuances da instrumentalização do corpo-atleta que remetem ao processo histórico de construção dos atuais modos de formação do jogador de futebol no Brasil. Pistas sobre os primeiros trabalhos de Psicologia do Esporte de que se tem notícia integram tal processo, e apontam a uma psicologia que também se instrumentalizava, tendo os testes psicométricos como principal recurso. Em uma trajetória na qual forças mais, e menos flexíveis produzem efeitos políticos, vê-se o aspirante a jogador de futebol transformar-se em um atleta que funciona como jogador-peça, jogador-produto, ou mesmo jogador-empresa, a fim de realizar o almejado e muitas vezes inquestionável sonho de ser mundialmente conhecido e aclamado. No espaço dos CTs, disciplina e biopoder se articulam em dispositivos em prol da manutenção de uma produção em moldes capitalísticos. Das modulações das práticas neoliberais surge ainda a figura do empresário para gerenciar a vida dos jogadores e garantir que sejam produtos valorizados no mercado global de boleiros. Embora ainda hoje os testes e os perfis psicológicos sejam instrumentos hegemônicos na psicologia esportiva, as práticas desta última são tão diversas quanto os modos de subjetivação existentes e implicam efeitos às vezes mais, às vezes menos adaptados à promoção do rendimento esportivo e à constituição do atleta empreendedor-de-si mesmo.